Chegou sua vez de cuidar daqueles que cuidaram de você? É certamente um momento difícil quando percebemos que devemos cuidar dos nossos pais de um modo mais direto. Amar é cuidar. E cuidamos deles ao longo da nossa vida, assim como eles sempre cuidam de nós. Mas cuidar agora não é apenas amar e estar por perto, prestar-lhes assistência. Cuidar agora exige muito mais. Não fomos preparados para isto, não é mesmo?
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CUIDAR DOS PAIS
EQUILIBRAR RESPONSABILIDADES - INTERPRETAR NECESSIDADES
online e gratuita
03/07, das 17-18h
Considerando as muitas perguntas e até mesmo angústia dos filhos que começam a cuidar de seus pais idosos e enfermos, elaborei esses conselhos para ajudar você e tantas outras pessoas em situações semelhantes. Peço que leia com tranquilidade. Não é apenas uma lista, mas um itinerário de valores e ideias que podem ajudar muito a você e outras pessoas.
Parte do meu trabalho tem sido investigar o processo do envelhecimento e como nossa sociedade o enfrenta, como nossa sociedade trata a pessoa idosa. Fruto dessas pesquisas é meu livro ENVELHECIMENTO E SOCIEDADE, também disponível em formato digital.
Esses conselhos foram pensados especialmente para aqueles que convivem com pessoas idosas, mas certamente valem para tantas outras situações.
Interpretar sim, preconceito não. Conviver ou cuidar de uma pessoa idosa exige muita atenção ao modo como interpretamos as coisas. Atenção a estas situações: 1) A pessoa nunca reclama: pode ser que haja medo ou preocupação de evitar dar trabalho; por isso, é necessário saber sempre observar as necessidades que possivelmente a pessoa tenha; o fato de não reclamar não significa que tudo esteja bem; 2) A pessoa sempre reclama: ao cuidar corremos o risco de nos preocupar com garantir as coisas necessárias e pode ser que esqueçamos que o mais necessário é a atenção, o diálogo, a companhia; a pessoa que está sempre reclamando pode simplesmente estar pedindo mais presença, mais diálogo.
Equilibrar segurança e liberdade. A pessoa quanto mais avança na idade, mais precisa de atenção e cuidados, mas isso não pode tirar dela a sua liberdade. Nem tudo ela continuará tendo condições de fazer, mas não é necessário infantilizar a pessoa. O cuidador deve saber respeitar certo espaço de liberdade. Mesmo que a pessoa não possa fazer o que diz querer fazer, deve pelo menos ser respeitada no poder dizer as coisas. Deve-se evitar corrigir tudo o que a pessoa diz.
Adaptar, adaptar, adaptar. Nem sempre o problema é ter muita idade. Aliás, todos buscamos a longevidade, não é mesmo? Muitas vezes o problema é que tudo é pensado para um padrão de idade e força (juventude). À medida que envelhecemos perdemos a elasticidade dos movimentos (pouco alongamento) e a força muscular, mas isso não significa que tudo devemos deixar de lado. A altura do micro-ondas permite que a pessoa idosa possa esquentar seu leite? Está muito alto? O estilo da torneira exige muita força para abrir e fechar? Às vezes, poucas adaptações permitem manter um certo ritmo de atividade: compras menos volumosas para carregar em sacolas, reorganizar a altura das prateleiras ou erguer coisas que ficam muito embaixo...
Saber ouvir os assuntos repetidos. Por que as pessoas idosas repetem sempre as mesmas histórias? Além de pensar que seja por esquecimento, vale a pena considerar que o melhor vai ficando mais apurado, igual ao vinho velho... Atrás das conversas repetidas e das histórias que já foram narradas existe sempre o desejo de compartilhar o que se aprendeu da vida. Não é só idoso que repete as coisas: observa as conversas de todo mundo, sempre repetimos coisas para rir, para marcar nossa amizade, para relembrar nossa história.
Comunicar-se por inteiro. O tempo passa e aos poucos carrega muita coisa: a audição vai tendo suas dificuldades, o mesmo com o raciocínio. O diálogo com uma pessoa idosa exige certos cuidados. Falar diante da pessoa, falar com clareza, repetir ideias importantes, interpretar se algo não foi bem compreendido. Quantos desentendimentos em família porque simplesmente supomos que fomos claros quando não o fomos... ou porque supomos entender o que não entendemos...
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