Aproximar-se de Deus é graça
À medida em que o homem se aproxima de Deus, todo o seu ser tende a resplandecer a luz do Criador, do mesmo modo, à medida em que o homem de Deus se afasta, toda sua existência mergulha na escuridão. Por causa disso, desde muito cedo a comunidade cristã elaborou listas de pecados.
Mais do que elencar o que não pode ser feito, tais listas chamavam a atenção para atitudes de fechamento ao chamado de Deus; atitudes que dificultavam ou mesmo inviabilizavam a vida na graça. No Novo Testamento encontramos inúmeras listas, mas podemos mencionar as seguintes: Gl 5, 19-21; 1Cor 5, 9-11; 6, 9-10; Mc 4, 19; 7, 21-22; Rm 1, 29-31.
O que são os pecados capitais?
Foi graças à vida monástica que chegamos a um elenco de pecados ou vícios que nos propendem a outros pecados. São atitudes que encabeçam outros pecados. Em latim caput significa cabeça e seu plural capita dá origem à expressão: pecados capitais. Isto é, o elenco de atitudes pecaminosas que facilitam cometer outros pecados.
A história das listas é muito curiosa e interessante. Houve quem listasse 8 pecados, distinguindo vanglória e soberba, mas com o tempo os sete pecados capitais como os conhecemos ficou estabelecido: o orgulho, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula, a preguiça (ou acídia) [Conferir Catecismo da Igreja Católica, nº 1866].
A soberba, mãe de todos os pecados
A raiz de todo pecado é a soberba. Tanto a palavra latina (super-bia) quanto a palavra grega (yper-phania) apontam para a realidade do soberbo: querer ser super.
A soberba mostra uma dificuldade em experimentar-se
e reconhecer-se como criatura,
como limitado, dependente...
Ainda que pareça exagero, o caminho do soberbo termina no ódio a Deus. Como?! Imagina-se uma vida em que se tem a impressão de que todos, incluindo Deus, sejam um limite para a sua manifestação como super. Todos se tornam inimigos do soberbo, até mesmo Deus.
Estar acima dos outros é a vestimenta mais comum do soberbo, entretanto pode vestir indumentárias mais sutis que passam despercebidas.
O soberbo frequentemente se sente injustiçado.
Ninguém o ama suficientemente, ninguém o reconhece suficientemente.
Sente-se permanentemente objeto de injustiça.
Ninguém o trata conforme sua medida...
Soberba: ignorância de si mesmo
Além disso, não há dor maior para o soberbo do que ser corrigido e estar sem razão. Sempre procurará uma justificativa para seu erro.
Infelizmente, o soberbo não consegue conhecer a si mesmo.
Na verdade, nem o deseja nem o pode desejar: seria aceitar sua condição limitada. Ele sonha ser deus!
Fechado em si mesmo é um grande prisioneiro do seu mal. Tudo que vê e ouve não passa ileso do seu julgamento. Sempre poderia falar melhor do que aquele que ele deve escutar, sempre tomaria melhores decisões do que aquelas que foram tomadas pelos seus companheiros.
Qual remédio para a soberba?
Tem remédio para o soberbo? Certamente tem. Mas é o remédio amargo de conhecer-se mais, reconhecer e aceitar seus limites e saber que sua existência depende dos outros e do Outro. A Sagrada Escritura contém muitas admoestações sobre a humildade, virtude contrária à soberba. Se esta o fecha em si mesmo, a humildade lhe abre um horizonte impensável.
Bom entender que em maior ou menor grau todos trazemos o desejo de ser como deuses como nossos pais no Jardim do Éden desejaram. Alguns querem alcançar esse desejo negando a Deus, outros, submetendo-se a Ele. Cabe a nós decidir.
Comentarios