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Um assunto só por vez: as decisões de dona Lucrécia

Atualizado: 6 de mai. de 2020

Dona Lucrécia retorna e bem ansiosa quer retomar a leitura da carta que recebeu do Padre Afonso. Ela o conheceu pela internet no tempo da pandemia por causa de suas catequeses virtuais. Ela havia enviado uma carta para ele e estava lendo a carta quando foi interrompida. Agora ela prossegue com a leitura.


*** Se você chegou agora, seria interessante começar do começo. Dona Lucrécia sofre com seu marido caladão, que a faz sentir-se sozinha no meio dos problemas. Eis o começo da carta...

***

A senhora bem sabe, mal começa uma conversa e parece que uma enxurrada de assuntos invade os pensamentos.


E essa enxurrada é excesso, é demais. E tudo que é demais, termina desprezado.


Lembre-se: gaste menos palavras, assim elas ficarão mais caras. A palavra é o produto mais precioso da inteligência, mas não pode ser multiplicado pelo impulso porque perde valor.


Com a segunda pergunta, não só suas palavras ficarão valendo mais, como também vai ficar mais difícil aquela enxurrada desabar na conversa de vocês dois. Nossa cabeça, dona Lucrécia, parece uma fonte de lembranças, de pensamentos e de emoções. Enquanto a gente não aprende a canalizar tudo o que sai dela, se espalha, vira um lamaceiro e nada mais! Mas se canalizamos, podemos aproveitar bem tudo o que sai dessa fonte.


Como evitar a enxurrada

A pergunta que faço é esta, mas lhe peço, não se incomode! A senhora conseguiria escolher um assunto só cada vez que for chamar seu marido para resolver algum problema? É o exercício de canalizar, se não vai virar enxurrada... Com o tempo, fica mais fácil acrescentar outros assuntos, mas nesse momento, temos que economizar as palavras, para elas não se desvalorizarem. Tenta direitinho, cada vez que lembrar de algum assunto, escreve no caderno. Quando for ter a conversa com o marido, escolhe um assunto só.


Se a senhora deixar vir a enxurrada, ele foge no barquinho do silêncio, se finge de distraído e desaparece...


Eu sei que parece muito difícil, né, dona Lucrécia. Até porque os problemas não são apenas seus, digo, da senhora, mas são dos dois. Por que a senhora teria que fazer este esforço tão grande?! Porém, há momentos que para vencer, precisamos correr não somente com mais velocidade, mas com uma direção mais acertada. Compreende?


E sei que vai ter um efeito bom. Uma comadre de lá de Passa e Fica disse que o marido ficou admirado que era só aquele assunto que ela tinha para resolver com ele. Esse marido ficou olhando para a esposa esperando algo pior, e ainda disse para ela se não tinha outra coisa para resolver. Foi quando a comadre reparou que o meu conselho era bom, e deixou para conversar outra coisa numa outra oportunidade.


É estranho, mas os maridos se acostumam a dizer que suas mulheres falam demais, que fazem tempestade em copo d’água, que não sabem parar de falar e reclamar. E quando elas mudam o esquema, eles ficam perdidos. Mas é assim mesmo: muda a cor do capim e o burro morre de fome! Não estou chamando seu esposo de burro, não, é só o ditado. Mas ele ensina uma coisa muito verdadeira.


Quando trocamos o jeito de fazermos algumas coisas, mudam também os resultados. Não é verdade?


Às vezes, os milagres acontecem quando jogamos nossa rede para o outro lado, como aconteceu com os apóstolos de Jesus... Pescaram a noite inteira e nada conseguiram, mas quando lançaram as redes para outro lado, parecia que os peixes estavam lá esperando as redes. É assim também com a gente, muitas vezes estamos bem perto da solução, mas ela está do outro lado, na outra atitude...

***

Poxa, dona Lucrécia estava quase terminando a carta, mas começava a chover, e ela tinha algumas toalhas de banho penduradas no varal. Não se irrite, ela já volta, e continuaremos a leitura dessa carta. Não é correto lermos a carta sem que dona Lucrécia nos acompanhe. Até a próxima!

***


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