Enquanto corre para evitar que as toalhas se molhem com a chuva, mais uma vez dona Lucrécia sentia uma mistura de raiva e satisfação com os conselhos do padre Afonso.
Ele sempre tinha um jeito de mostrar coisas que estavam ali, mas nem sempre são percebidas. Conversar um assunto por vez, tentar resolver um problema por vez, não era conselho muito diferente do que ela havia recebido em uma ocasião de sua avó materna.
Enquanto se molhava na chuva, dona Lucrécia se recordava da sua avó Ester. Também naquela tarde do tal conselho chovia e era a primeira vez que a jovem Lucrécia sofria por causa do amor. Era amor de adolescente, e a paixão de Lucrécia não correspondia aos seus sentimentos. Ainda pior, fazia pouco caso deles.
A mãe de dona Lucrécia, a senhora Margarete, era uma mulher de gênio forte, observadora, decidida e explodia com facilidade. Era o tipo da pessoa: é ou não é, vai ou racha. Diante do sofrimento da filha, imediatamente a censurava por insistir em sentimentos que não eram correspondidos.
A avó, por sua vez, ainda que concordando com a filha, não deixava de se compadecer da neta:
Lu, na hora que você encontrar quem mereça seu amor,
os dois sentirão algo muito forte;
é a mesma alegria de quem encontrou a pedra preciosa que tanto procurava!
A avó acrescentava:
E quando você encontrar esse amor, vai perceber que todos os dias terão que lapidar juntos esse amor. O amor é como pedra preciosa, é preciso ser olhado pela pessoa certa para reconhecer seu valor e é preciso que dia após dias seja lapidado com ternura e sabedoria.
Imediatamente dona Margarete interrompia: Lu, encontre esse amor que sua vó está falando, mas essa de ficar lapidando não é comigo. Comigo eu resolvo na marretada mesmo. E as três riram.
E novamente dona Lucrécia riu percebendo que as palavras de sua avó novamente ressoavam no conselho do padre Afonso: lapidar exige paciência, conhecer a forma que se quer dar àquela pedra que é o relacionamento, mas também sabedoria para dosar a firmeza da lixa. Lapidar pedra preciosa na marretada não seria possível, seria trágico.
Agora era momento de repensar como cuidar dessa pedra preciosa: ou lapidar como sua avó havia ensinado ou dar marretada como sua mãe havia indicado.
Lapidar ou marretar?
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Rsrs Jesus!
Ótima reflexão... o relacionamento deve ser mesmo lapidado para tomar a forma que desejamos, por mais que a gente tenha vontade de dar umas "marretadas" algumas vezes....rs.