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Silêncio, fermento para a fé crescer

O silêncio e a sabedoria
A Sagrada Escritura ensina constantemente a importância do silêncio como condição para acolher tanto a palavra do homem como a Palavra de Deus. Mais do que ausência de rumores exteriores, o silêncio é a condição essencial da escuta, da compreensão e da capacidade de agir conforme a vontade de Deus.
O excesso de palavras, por sua vez, rouba do homem seu encontro com a sabedoria e o expõe à sua insensatez. “Onde abundam as palavras não falta o pecado, mas quem poupa seus lábios é sensato” (Pr 10,19). “Quem despreza seu próximo é um insensato; o homem prudente se cala” (Pr 11,12).
Se o excesso de palavras pode nos levar a falar o que não devemos, o silêncio nos permite escutar o que precisamos! A quem sabe fazer silêncio não falta a sabedoria que vem de Deus.
 
Silêncio, fermento para o crescimento da fé
Em nossa Senhora encontramos essa verdade de maneira exemplar. Como ela teve forças para suportar o sofrimento do seu Filho sem perder sua fé no Deus Altíssimo? Como pode permanecer de pé diante do seu Filho crucificado (cf. Jo 19,25)?
A vitalidade da sua fé, ainda que com seu coração transpassado pela dor (cf. Lc 2,35), foi nutrida ao longo de uma vida de silêncio e escuta daquilo que Deus fazia em sua vida. Lucas relata no início do seu evangelho o silêncio, a escuta e a meditação que a Virgem Maria praticava diante das ações de Deus em seu favor. “Maria, por sua vez, conservava tudo isso, meditando-o em seu coração” (Lc 2,10). O silêncio é condição para conservar dentro de si a contemplação do agir de Deus.
Depois da perda e reencontro do menino Jesus no templo, Maria “guardava tudo isso em seu coração” (Lc 2,51). O silêncio jamais pode ser entendido apenas como ausência de palavras, mas deve ser pensado como um fermento que no seu mistério faz a massa crescer... A massa cresce não quando é agitada, mas quando repousa.
 
Converter-se: libertar-se do excesso de barulho e palavras
Em nosso mundo agitado e barulhento corremos o risco de trazer tudo isso para nossa vida espiritual, roubando de nós o fermento da renovação, da graça e da conversão. Às vezes, trazemos tanto barulho para dentro de nossas Igrejas!
Mais do que vigiar o barulho do outro, somos nós que devemos não entrar no barulho a que o outro nos convida.
Certamente silenciar o coração é exigente, é como um exercício ao qual não estamos acostumados. Ao iniciar sua prática com mais atenção, pode chegar até doer em nós. Não é à toa que também é um exercício de mortificação. Não é à toa que é um chamado à conversão.
Quando Jesus nos diz que é necessário para entrar no Reino dos Céus tornar-se como uma criança (cf. Mt 18,3-4), sempre me vem à mente que “infante”, na sua etimologia, significa aquele que ainda não fala, não dispõe da palavra própria. Jesus mesmo também já havia ensinado que o multiplicar das palavras não é garantia de se alcançar o que se pede (cf. Mt 6,7-8).
Fazer silêncio é difícil, mas é a grande tarefa que temos de empreender se desejamos alcançar mais sabedoria para enfrentar os desafios da vida e, assim como nossa Senhora, diante deles nos manter de pé. Silêncio em casa, silêncio nos ambientes hostis, silêncio na Igreja.
Que a devoção à santíssima Virgem Maria seja completa!


Padre Cleiton Viana da Silva é presbítero da Diocese de Mogi das Cruzes (SP), doutor em teologia moral pela Academia Afonsiana (Roma), mestre em bioética pelo Centro Universitário São Camilo, especialista em marketing e mídias digitais pela FGV, professor de teologia na Faculdade Paulo VI, autor por Editora Paulinas e ministra cursos presenciais e on-line. Conheça seus próximos cursos e atividades. Clique aqui.
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