Recentemente, tem chamado a atenção a presença de padres tiktokers e produtores de reels divertidos para o Instragram. Muitas pessoas têm se aproximado, tornado seguidores e acompanham bem de perto suas postagens. Outras pessoas olham com preocupação tal fenômeno. O que podemos pensar sobre isso?
Resistências e timidez
A Igreja sempre soube fazer o melhor usos dos meios de comunicação social, mas sempre aprendeu com um pouco de atraso; é muito comum a Igreja olhar, no primeiro momento, com resistência e dúvida sobre o valor de novos meios de comunicação em relação à sua missão. Foi assim com a imprensa, foi assim com o rádio, a TV, a internet e com as redes sociais.
Além da resistência, há também o despreparo e o tímido uso destes meios. Basta ver nossas paróquias, a qualidade do som e de sua operação, nossos jornais paroquiais e diocesanos. Se pensarmos ainda na catequese cujo instrumento principal é lousa e giz, a coisa fica ainda mais preocupante. O isolamento na pandemia evidenciou tudo o que precisamos crescer em termos de comunicação...
Ministério, proximidade e cuidados
Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja tenta cada vez mais estar perto do povo, falar sua linguagem e anunciar a salvação de modo que a pessoa possa acolher e aderir à fé. Com o advento da internet e do uso cada vez mais popular das redes sociais, muitos evangelizadores, inclusive padres, encontraram nas redes sociais um grande campo de atuação.
Eles não dependem da concessão de um espaço físico para realizar um evento nem da concessão de um tempo em uma mídia tradicional como a TV, por exemplo. Alcançam centenas de milhares de seguidores e compartilham conteúdos que atraem o povo pela alegria, simplicidade e proximidade pelo simples fato de estarem e tirarem o melhor das redes sociais.
Algumas pessoas se perguntam, no caso de padres, se isso não esvaziaria o sentido do sagrado podendo até mesmo prejudicar o ministério que desempenham. Essa pergunta deve permanecer e nos acompanhar em tudo o que fazemos, mas não poderia se tornar uma espécie de preconceito contra padres que assumem as redes sociais também como um espaço de evangelização. O futuro dirá muito sobre este campo e eu tenho minhas apostas!
Diversidade de dons, mesmo Espírito e o discernimento
O padre tiktoker não é menos sério e empenhado na evangelização do que o padre doutor em teologia e professor em uma faculdade. O padre que faz danças nos reels mostrando as diferenças entre crer e ter superstição não é menos comprometido que o padre que escreve livros de apologética. Eu diria: apenas se preocupam com interlocutores diferentes. E tomemos cuidado para não pecar contra o Espírito... Ele distribui os dons, devemos discernir, mas não sufocar.
Mais ainda, a proximidade dos padres com a rotina das pessoas, e especialmente dos mais jovens, ajuda a diminuir as distâncias passando de uma Igreja de discurso hermético e abstrato para uma Igreja em saída que fala a linguagem do povo, conhece sua realidade e alegra esse povo.
Os cuidados são necessários em todos os modos de desempenhar o ministério: a prudência, o zelo com o sagrado e a vigilância para evitar a ambiguidade são elementos essenciais para todos os padres, tiktokers ou não!
Padre Cleiton Silva é doutor em teologia moral pela Academia Afonsiana (Roma), especialista em marketing e mídias digitais pela Fundação Getúlio Vargas, autor de vários livros por Paulinas Editora, pároco e usa as redes sociais como espaço de evangelização. Instagram: @padrecleitonsilva
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