Amigos mais próximos e grande parte dos meus paroquianos me ouviram e me ouvem dizer que o coronavírus não é nem castigo nem inimigo. Como todas as coisas da natureza ele também está por aí.
Semelhante à lei da gravidade que também está por aí e se não andamos com atenção podemos tropeçar e cair, é bobagem culpar a lei da gravidade pela nossa queda. Assim também é com o vírus e a doença que ele pode desenvolver: também estão por aí e é nossa responsabilidade aprender com eles alguma coisa.
De fato, duas coisas foram descobertas ou redescobertas por grande parte da população mundial. A primeira é que somos vulneráveis e a segunda coisa, muito unida à primeira, é que somos cuidado.
Você pode ser ferido, derrubado ou aniquilado
Deve soar duro e até dramático entender que por mais inteligentes que sejamos, por mais fortes e cuidadosos com a saúde que sejamos em qualquer momento e sem avisar podemos ser afetados por algum mal. Uma enfermidade, uma traição ou simplesmente a violência gratuita de pessoas desajustadas.
Mas nem é necessário que essas situações irrompam em nossa vida, somos ainda mais vulneráveis do que pensamos: um dia sem um oi cheio de carinho, uma semana sem falar com alguém que amamos ou um mês sem nos reunir com pessoas queridas e nossa saúde emocional se abala. Quem se dava conta disso antes da pandemia, não é mesmo?!
E justamente a pandemia tornou evidentes tantas coisas que ficavam escondidas. Que nossos projetos não estão seguros para existir quanto em nosso coração para sonhá-los. Que nossos amigos e familiares podem passar sem que tenhamos condições de dizer adeus. Que nossas expectativas se desfazem e nem vimos por onde foram.
Cuidar não é tarefa, é nosso jeito humano de ser
Mas nesse cenário talvez assustador, descobrimos o cuidado. Mais do que tarefa ou atividade (cuidar do neto, cuidar da planta ou cuidar da casa), o cuidado é algo que nos define como gente, como ser humano. Diria a fábula de Higino: enquanto vivemos pertencemos ao cuidado!
Sim, o cuidado faz toda a diferença diante das coisas, dos imprevistos da vida, das ameaças da natureza como um vírus ou uma doença que estão por aí. O cuidado não soluciona nossa vulnerabilidade, mas nos permite enfrentá-la e administrá-la com uma força incrível: a força da solidariedade, a força da compaixão e a força do amor.
Quem cuida de nós, quem se preocupa com nossa vida e quem pelo menos nos manda um oi estava dizendo: eu me importo com você. Os desafios estão aí, mas eu me importo com você. E se você soube cuidar você soube amar!
2021 está pra chegar com todas as coisas que também estão por aí: alegrias e preocupações, desafios e vitórias, tristezas e esperanças. E que entremos em 2021 conscientes de nossa vulnerabilidade e do cuidado como marcas da nossa existência.
Uma leitura essencial: SABER CUIDAR – ética do humano, compaixão pela terra
Se posso indicar a você uma leitura que marcou meu pensamento sobre a vulnerabilidade e o cuidado é este livro que citei acima. É um livro que nos permite aprofundar de maneira leve e organizada sobre o tema da vulnerabilidade e do cuidado. Neste link, você consegue ver mais detalhes. Boa leitura.
15 anos de sacerdócio: 30 de dezembro de 2020
Daqui poucos dias, se Deus me permitir, completo 15 anos de sacerdócio consciente da minha vulnerabilidade e do cuidado que sou chamado a ser. Minha gratidão a todos vocês, queridos amigos e amigas, que constantemente me recordam minha vocação, minha missão e o chamado que recebi de Deus.
Conto com a oração de vocês.
Forte abraço.
Desde já Feliz Natal!
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