Celebrações sem a presença do povo
Daqui uns dias viveremos uma semana santa de um modo que jamais poderíamos imaginar: os padres presidirão as celebrações sozinhos (ou com um número limitadíssimo de pessoas). Inúmeros fiéis acompanharão de suas casas essas celebrações, longe de sua igreja, longe de sua comunidade reunida. É de doer o coração.
Porém, toda dor pode ser um aprendizado.
Desde que começamos a vida temos aprendido isso
que as dores ensinam,
as dores abrem os olhos
e reorganizam o coração e a consciência.
O silêncio e a simplicidade
Nesta semana santa, dois aspectos ficarão evidentes entre nós: o silêncio e a simplicidade. Talvez as duas coisas mais presentes no sofrimento de Cristo.
O silêncio é por causa da sua solidão. Sua solidão quando os discípulos não o compreendiam porque tinham o coração endurecido; sua solidão quando os discípulos não conseguem rezar com ele nem por uma hora (cf. Mt 26, 40ss); sua solidão quando todos os discípulos o abandonam e fogem (cf. Mt 26, 56); sua solidão quando todo o povo pede sua morte.
Poderemos pensar em todas as vezes que estivemos com Cristo, mas o mantivemos na solidão. Nas orações distraídas por descuido, nas missas em que não víamos a hora que acabasse, nas vezes em fomos à missa apenas por obrigação. Nas tantas vezes que a semana santa pareceu um grande feriado prolongado para o lazer desregrado e para o egoísmo. Pela primeira vez poderemos legitimamente ficar em casa.
A simplicidade poderá nos trazer uma lição extraordinária:
o essencial é sempre menos evidente!
Nossas celebrações serão mais momento de oração do que de espetáculo. Não há o que exibir senão os passos da entrega de Cristo. Sua nudez na cruz será semelhante aos nossos bancos desocupados, às naves de nossas igrejas vazias: é a fragilidade da vida que se manifesta.
Nesse clima do essencial, não teremos as disputas que frequentemente nos desgastam: disputas para quem vai cantar que dia; se o repertório é mais do gosto do padre ou dos músicos; se o som será alto ou baixo; se as flores serão estas ou aquelas; se este padre prega bem ou mal; se a Igreja estará apertada ou confortável. Muitos se recordarão destas disputas e talvez se envergonharão: há coisas mais importantes e elas nos foram tiradas!
As coisas às claras
Tenho sempre repetido e repetirei: o novo Coronavírus e a Conavid-19 não são em si mesmos nossos inimigos. Não devemos amaldiçoá-los. Certamente estão causando um grande estrago em toda humanidade e seu flagelo nos atingirá, cedo ou tarde. O que eles trazem serve para avaliar o modo como nossa sociedade tem se organizado, seu nível de egoísmo e solidariedade, de colaboração e indiferença.
Tudo vai passar e um dia nossas capelas estarão cheias novamente. Mas estaremos lá para os espetáculos ou para permanecer com Cristo?
A quem desejar também recomendo este vídeo sobre a dor e a presença do Deus.
Tenho esperança de que este mau tenha vindo para a unificação de todos os povos, temos que aceitar que somos todos filhos e filhas de um único Deus 🙏🙌