Sensação de algo entalado na garganta, sobrecarga que sentimos sem explicação, estado permanente de angústia ou ansiedade com eventuais ou recorrentes episódios de explosão... geralmente isso é consequência de agradarmos demais as pessoas esquecendo em primeiro lugar de nós mesmos.
Sem nos dar conta vivemos a vida sob os outros. Não digo “para” os outros, mas sob os outros. O ideal é vivermos a vida para os outros no sentido de construir com eles uma vida que vale a pena. Quando vivemos a vida sob os outros é porque sufocamos a nossa própria vida. E sem ela não é possível conviver (com-viver) com serenidade. A vida sob os outros nunca termina bem.
Sempre seremos solicitados, mas sempre precisamos manter o foco
É normal que as pessoas nos solicitem, interrompam ou mesmo façam sugestões que estão fora do nosso planejamento. Conviver supõe que o outro entre em nossa rotina e mexa nos nossos esquemas.
Precisamos aprender a conhecer bem quem somos, identificar com clareza nossos sonhos, nossas prioridades e frequentemente verificar se estamos indo na direção dos nossos sonhos ou não. É verdade que o outro, penso nas pessoas mais importantes da nossa vida, sempre faz parte dos nossos sonhos. E atender suas solicitações também é um passo a mais na direção de uma vida feliz.
Mas precisamos ter critérios, do contrário terminamos arrastados por cada solicitação que nos aparece. Para isso é preciso aprender a dizer “não”.
Para aprender a dizer “não” eu preciso aprender a ouvir o “não”
Esse é o ponto mais duro nessa jornada. Usamos mal o ensinamento de Jesus: “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você!” E como não gostamos de ouvir um não, acabamos não refletindo como o não também faz parte do normal da nossa existência diária.
Se eu reajo mal quando as pessoas me dão uma negativa, cria em mim uma sobrecarga imensa de sempre dizer sim como se isso fosse uma moeda de troca ou algo que pelo menos me desse o título de boa pessoa. Olha como eu sempre digo sim, agora os outros também não podem me contrariar...
Receber um não sem esperar explicação, receber um não porque a outra pessoa tem prioridades que não coincidem com a sua, receber um não e saber tocar você mesmo sua vida é o primeiro passo para ficar mais leve diante das solicitações do outro. Quem aprende a ouvir um não com serenidade não engasga quando deve dizer o seu não a quem lhe solicita algo.
Evite o depois eu vejo, o talvez ou algo diferente do não. Não é não!
Treine sempre dizer o não com leveza e, somente se for muito necessário, acrescente a justificativa. Mas cuidado: a justificativa pode ser simplesmente de que você tem outros planos e outras prioridades. Não precisa inventar uma calamidade para dizer não.
E como cada um escuta com um filtro de expectativas, sempre diga o não com clareza. Quem deseja receber um sim tende a interpretar o talvez como um sim possível, ou o talvez como um sim adiado. Evite confusões desse tipo.
Toda arte é técnica e intuição
Como toda arte exige repetição, auto-observação e uma boa dose de intuição. Não tenha medo de sempre rever o modo como você lida com isso.
Há situações em que você vai perceber que dizer o não é mais libertador do que fugir da pessoa. Com o tempo vem o aperfeiçoamento e principalmente as pessoas passam a reconhecer que você é alguém que valoriza o que diz.
Pode ser desagradável as pessoas ouvirem de você um não, mas é mais desagradável deixar as pessoas na mão ou explodir com quem não tem nada a ver.
A vida organizada e serena é obra de arte. A gente precisa aprender a viver bem.
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